As vacinas disponíveis contra a covid-19 possuem grande eficácia contra a variante delta do coronavírus. A conclusão vem a partir de uma série de estudos realizados em diferentes países. Hoje (16) a agência governamental inglesa para a saúde pública (Public Health England) divulgou um levantamento com dados positivos acerca dos imunizantes disponíveis naquele país. Foram levados em conta dados de um cenário geral da população de vacinados, que representa mais de 65% com duas doses e 75% com uma.
Na Inglaterra, onde a variante delta já é dominante, a população recebeu vacinas da AstraZeneca e da Pfizer, também aplicadas em larga escala no Brasil. A cepa viral, até 70% mais contagiosa, circula de forma ainda reduzida no Brasil, mas avança com velocidade. No Rio de Janeiro, levantamento dos laboratórios LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica) e UFRJ/LVM (Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ) já notam a prevalência em 56,6% da nova cepa nas amostras recolhidas neste mês.
No estudo, a agência não discrimina as efetividades por vacina, mas sim resultados gerais. Na média, a efetividade dos imunizantes contra a variante delta ficou em 35% para casos sintomáticos da doença com uma dose, e em 79% com duas. Nota-se que a cepa reduz a eficácia global das vacinas, especialmente quando contamina organismos que tenha recebido apenas a primeira dose. Entretanto, seguem com alto grau de proteção. Contra a variante alpha, menos agressiva, os indicadores são de 49% para as primeiras doses e 89% com o esquema vacinal completo.
As eficácias das vacinas são evidentes com a análise das curvas epidemiológicas dos países. Enquanto a variante delta elevou o número de casos e mortes nos Estados Unidos, que registra 46% dos adultos vacinados com duas doses, na Inglaterra, apesar do aumento expressivo nos casos, as mortes não acompanham a escalada.
Enquanto isso, no Brasil a vacinação avança de forma mais lenta. Apenas 24,68% dos brasileiros estão imunizados com duas doses. Pesa sobre o país a postura do governo federal na compra das vacinas, possível prevaricação e corrupção envolvendo contratos e o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, que rejeitou a ciência, divulgou mentiras sobre a segurança das vacinas e o uso de máscaras, além de ter promovido e incentivado aglomerações.
Contudo, mesmo que de forma tímida, os resultados já começam a aparecer. Hoje, o país registrou 434 mortos por covid-19, totalizando 569.492. O número de novos casos foi de 14.471. Ao menos 20.378.570 brasileiros foram infectados com o vírus desde o início do surto, em março de 2020. Desde o dia 12 de abril, as mortes e os casos passaram a recuar com velocidade no país. A média móvel de mortes, calculada em sete dias, está em 847, menor número desde o dia 7 de janeiro. O mesmo indicador dos casos está em 28.688, melhor marca desde o dia 18 de novembro do ano passado.
Outras vacinas
Além das vacinas da AstraZeneca e da Pfizer, os brasileiros também recebem os imunizantes CoronaVac e Janssen. O Instituto Butantan, responsável pela produção da CoronaVac, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, está conduzindo um estudo de eficácia da vacina diante da variante delta. Levantamentos com outras variantes apontam que a vacina possui eficácia de até 95% para evitar mortes. Entretanto, a imunidade provocada pelo fármaco reduz com o tempo, especialmente em idosos e imunossuprimidos. Por esta razão, cientistas apontam que uma terceira dose de reforço deve ser levada em conta.
A Tailândia, que também utiliza a CoronaVac, divulgou em agosto um estudo de eficácia do imunizante. As variantes analisadas foram a alpha e a delta, que circulam no país. Os resultados foram animadores. O levantamento do Ministério da Saúde Pública da Tailândia (MOPH) levou em conta 677.348 profissionais de saúde entre abril e junho. Com 14 após duas doses, a vacina apresentou eficácia de 90% contra a variante alpha e 75% contra a delta.
Um outro estudo divulgado na última semana por um programa do Departamento Nacional de Saúde da África do Sul (Sisonke) analisa a eficácia da Janssen. Foram avaliados 477.234 trabalhadores da saúde no país vacinados com o fármaco da Johnson & Johnson. A eficácia notada ficou em 71% contra internações e 95% contra mortes. Também foi avaliada a variante beta, que circula com intensidade no país. Foram evitadas 66% das hospitalizações e 91% das mortes.
Ação conjunta
Pesquisadores afirmam com segurança que as vacinas funcionam e devem ser o principal instrumento de superação da pandemia, mesmo com o perigo representado pela variante delta. Entretanto, nenhuma vacina é 100% eficaz. Logo, outras medidas não farmacológicas devem ser adotadas em paralelo, como uso de máscaras e distanciamento social. “Vacinas salvam vidas. Precisamos ampliar ainda mais a cobertura vacinal. Especialmente com a primeira dose, para já promover uma proteção para a população, mas crucialmente com a segunda, para aumentar substancialmente a proteção. E não esquecer que, enquanto a transmissão estiver elevada, usar máscaras, preferencialmente PFF2, em ambientes abertos e, principalmente, fechados. Fazer distanciamento físico sempre que possível. Preferira ambientes bem ventilados e abertos”, afirma a neurocientista e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mellanie Fontes-Dutra.
Os cientistas criticam o fim das pouco rigorosas medidas de isolamento social nas cidades e estados brasileiros. Em São Paulo, por exemplo, o governador João Doria (PSDB) vai suspender amanhã (17) todas as restrições aos horários de funcionamento e ao percentual de ocupação dos estabelecimentos comerciais. O governador também anunciou hoje a liberação de 100% de público para o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, no autódromo de Interlagos, previsto para o dia 7 de novembro.
Mellanie questiona a pressa. “Todos aqueles que quiserem reabertura da sociedade deveriam ser os primeiros a cobrar medidas assertivas de fiscalização das medidas que protegem da transmissão e ampliação da vacinação, para a implementação de terceiras doses por aqui, por exemplo. Nosso maior problema é a transmissão. Precisamos necessariamente somar às vacinas as medidas que seguram muito a transmissão, como uso de máscara e distanciamento”, completa.
FONTE: RBA