Os cânceres de pulmão, próstata, fígado, esôfago, laringe, ovário e mama são os que mais causam mortes no Rio Grande do Sul. A constatação é do Atlas do Câncer Relacionado ao Trabalho no Brasil, lançado nesta quarta-feira (16). O estudo elaborado pelo Ministério da Saúde analisou os dados do Sistema de Informações Sobre Mortalidade (SIM) entre 1980 e 2019, e concluiu que estes oito tipos de câncer representam 80% ou mais dos óbitos causados pela doença em homens e mulheres no RS, considerando aqueles observados em ambos os sexos e aqueles específicos de cada um.
Durante o todo o período analisado, mais de 3 milhões de pessoas morreram no Brasil por até 18 tipos de câncer que podem ter sido causados pela exposição a produtos, substâncias ou misturas presentes em ambientes de trabalho. Segundo os pesquisadores, o resultado poderia ser menor caso mais ações tivessem sido feitas para controlar ou eliminar a exposição dos trabalhadores a agentes cancerígenos.
No caso do RS, é bem variada e ampla a lista de atividades, setores e ocupações associadas a exposições classificadas como carcinogênicas ou provavelmente carcinogênicas relacionadas aos tipos de câncer que mais levam a óbito no estado.
A lista inclui: indústrias da construção civil; produção e uso de todas as formas de amianto (incluindo fabricação de isolantes térmicos); formaldeídos e biocidas (exposição ao dieldrin e aldrin), plásticos, borrachas e têxteis; indústria nuclear, siderúrgica e petroquímica; fabricação de fertilizantes, ácidos inorgânicos fortes, pigmentos e baterias; produção de metais pesados, mineração subterrânea e serviços de radiologia (exposição à radiação ionizante, incluindo radônio 222 e filhas do radônio).
São também atividades potencialmente relacionadas com o câncer, o chapeamento de metal; trabalhos em ambientes fechados como bares e restaurantes; ocupações como as de pintores, pedreiros, trabalhadores em serviços externos, trabalhadores da construção civil, bombeiros, soldadores e trabalhadores noturnos (saúde, transporte e serviços).
Mulheres
Entre as mulheres gaúchas, de seis a sete tipos de câncer representaram 80% ou mais de todos os óbitos entre as tipologias da doença que possuem associação com o trabalho, segundo a literatura médica. Nos últimos cinco anos analisados no estudo, destacaram-se, em ordem de proporção: pulmão, mama, sistema nervoso central, estômago, fígado, ovário e esôfago.
As neoplasias de mama, pulmão, fígado, esôfago e ovário foram observadas em todos os quinquênios entre o conjunto de tipologias que corresponderam a pouco mais de 80% do total de óbitos.
Entre os sete tipos de câncer que representaram 80% do total de mortes nos últimos cinco anos da pesquisa, a faixa etária mais vitimada foi a de 60 anos ou mais. Os autores do estudo também destacam as mortes causadas por melanoma, mesotelioma e nasofaringe em pessoas com idades entre 15 a 19 anos, nas quais esses tipos da doença são raras.
Homens
Já entre os homens, também varia entre seis e sete os tipos de câncer que representaram 80% ou mais de todos os óbitos entre as tipologias que possuem associação com o trabalho. Em ordem de proporção, os cânceres de pulmão, próstata, esôfago, estômago, fígado, sistema nervoso central e laringe se destacaram nos últimos cinco anos pesquisados no estudo.
As neoplasias de pulmão, esôfago, próstata, fígado e laringe foram observadas em todos os quinquênios entre o conjunto de tipologias que corresponderam a pouco mais de 80% do total de mortes entre os homens do RS acometidos pela doença.
A proporção de óbitos entre homens acima de 60 anos foi maior em todos os sete tipos de câncer que mais afetam os gaúchos. Assim como no caso das mulheres, o estudo também destaca as mortes causadas por mesotelioma, nasofaringe e melanoma em idade abaixo da relatada na literatura, respectivamente entre 15 e 19 anos, de 20 a 39 anos, e entre 40 e 59 anos.
Recomendações
Os autores do Atlas do Câncer Relacionado ao Trabalho no Brasil explicam que a realização de análises de óbitos por diferentes tipos de câncer contribuem para os processos de planejamento, gestão e avaliação de políticas públicas de saúde, com o objetivo de reduzir o número de casos de Câncer Relacionado ao Trabalho (CRT) a partir da identificação e análise de tipologias específicas da doença.
Os pesquisadores ainda destacam a importância da inter-relação da Vigilância Sanitária com a Vigilância em Saúde Ambiental como primordial no processo de vigilância do câncer.
“As contaminações ambientais por produtos e substâncias tóxicas aos seres humanos – a exemplo da contaminação por resíduos de pesticidas já ocorridos no país – são tanto fatores de risco para intoxicações sistêmicas e desenvolvimento de câncer na população exposta quanto entre trabalhadores que desenvolvem atividades no local. Outro exemplo é a exposição às emissões de poluentes e compostos carcinogênicos liberados pela queima da cana-de-açúcar em períodos de colheita, fato que afeta trabalhadores e população local”, afirma os autores do Atlas.
Ao considerar a necessidade de integração entre saúde do trabalhador e ambiental, o estudo destaca a urgência da estruturação de sistemas de informação e de monitoramento capazes de gerar dados e informações sobre os efeitos dos contaminantes ambientais na saúde humana, incluindo grupos específicos como os trabalhadores expostos a esses fatores de riscos ocupacionais para o desenvolvimento de câncer.
Assim, os autores definem algumas estratégias prioritárias para implementação e qualificação da vigilância. São eles: vigilância dos agentes cancerígenos, fatores de risco e dos trabalhadores expostos; vigilância dos casos; integração da vigilância com a Rede de Atenção à Saúde (RAS); capacitação profissional, produção e divulgação de informações.
“Além do comprometimento na qualidade de vida das pessoas acometidas por diferentes neoplasias, o reconhecimento de que as formas de produção, dos ambientes e processos de trabalho possuem repercussões sobre a saúde e vida dos trabalhadores e das populações potencialmente afetadas representa elemento fundamental para a elaboração de políticas de saúde pública, meio ambiente e sustentabilidade. Esse também é um elemento importante para pautar as análises de situação em saúde do trabalhador e subsidiar o uso dessas informações para propor medidas de proteção à saúde dos trabalhadores e de toda a população”, ressalta um trecho do Atlas.
Por fim, o estudo pondera que a redução de certos tipos de Câncer Relacionado ao Trabalho (CRT) seria beneficiada com medidas de vigilância direcionadas ao banimento da extração, comercialização e uso dos principais agentes responsáveis por sua ocorrência, com eliminação progressiva nos processos de trabalho.
FONTE: SUL21