ESTRÉIA NO CINEMA: “As pessoas veem na luta de Marighella a sua luta no Brasil de hoje”, diz Wagner Moura

Mesmo antes de seu lançamento oficial, em 4 de novembro, o filme Marighella tem causado dores de cabeça ao governo federal. Ainda nesta semana, antes de chegar às telas dos cinemas de todo o país, ganha uma sessão especial no assentamento Jacy Rocha, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Prado, na Bahia e logo depois, em uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), em São Paulo.

“O que eu puder fazer para aproximar o filme das pessoas pelas quais Marighella lutou, as pessoas veem na luta de Marighella a sua luta no Brasil de hoje, o que eu puder fazer, eu vou fazer”, diz Wagner Moura.

O filme, que retrata os últimos cinco anos de vida de Carlos Marighella, o guerrilheiro baiano que foi de deputado federal pelo PCB (Partido Comunista Brasileiro) a líder da luta armada nos anos 1960, está em um giro de pré-estreias pelo país – já passou por Bahia, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo.

Na última semana, o secretário de Cultura, Mario Frias, foi às redes sociais para confrontar uma crítica do diretor do filme, Wagner Moura, ao presidente Jair Bolsonaro: “Achou que ia pegar comigo verba pública para esse lixo panfletário? Pede para sair, moleque!”, disse ele.

“É um filme sobre um homem pelo qual eu tenho uma admiração enorme, um personagem da história do Brasil que teve a sua história apagada, silenciada pela narrativa oficial e que continua causando medo. É engraçado como o fantasma de Marighella causa, ainda hoje, talvez mais medo e terror nessa galera, do que na época em que ele estava vivo”.

Após a estreia de Marighella, Moura fará trabalhos com dois dos principais diretores brasileiros: Karim Aïounz e Kléber Mendonça e planeja passar um tempo no Brasil. Nesse período, o país viverá um de seus pleitos eleitorais mais complexos dos últimos anos. Para o diretor, esse é um momento de reconstrução.

“A gente tem que voltar alguns passos e construir. Se a eleição fosse hoje, eu votaria em Lula. Embora lá atrás, quando na época dos governos do PT, eu pensasse que o Brasil precisava dar ainda um passo mais adiante do que o PT representava. A minha opção é pelas políticas de inclusão social e eu acho que Lula também é um cara que aprendeu e se afetou muito por tudo isso que a gente está falando. É nossa responsabilidade também levar um possível governo Lula para um lado mais progressista”

Confira a entrevista na íntegra

Teu sonho era que o filme estreasse no Brasil. Já havia uma caminhada por festivais internacionais, aquela apoteose em Berlim, mas de fato é aqui onde o filme vai travar sua maior batalha né?

É, exatamente. É um filme que estreou em 2019, no Festival de Berlim, foi uma história realmente poderosa, aplaudido de pé por quase 10 minutos e foi muito importante para a gente aquilo, porque éramos mais de 25 pessoas do elenco, o que demonstrava o comprometimento que todos tinham com o filme, foi muito bonito.

E depois de Berlim, também passamos por diversos festivais no mundo, sempre com a mesma receptividade. Seu Jorge ganhou prêmio na Itália, na Índia. O filme foi escolha do New York Times como um dos filmes da temporada. A passagem fora do Brasil de Marighella foi consagradora, mas aqui nunca fez sentido total para a gente, até que o filme pudesse estrear no Brasil.

Tentamos estrear em 2019 e fomos interditados pelo governo federal, que continua tentando interditar o filme até agora, até hoje. É um filme que, desde o seu financiamento, desde o início da sua caminhada, sempre sofreu e segue sofrendo ataques, violência. Essa gente do governo, membros do governo, tem ido à rede social para mobilizar sua militância contra o filme, indo no IMDB e dando nota baixa para o filme sem nunca ter visto.

Toda essa violência, por outro lado, sobretudo dado o momento pelo qual passa o país hoje, nas nossas pré-estréias – começamos agora em Salvador, depois Fortaleza, Rio e São Paulo – a presença das pessoas, abraçando o filme, os movimentos sociais indo em peso às pré-estreias, para dizer que esse filme significa algo para gente, que a luta de Marighella é a nossa luta, que entenderam o calvário pelo qual a gente passou e que querem ver a história de Marighella contada. Isso tudo é muito superior a qualquer tipo de violência. Eu estou muito feliz pela maneira com que as pessoas têm abraçado o filme.

Na primeira conversa que a gente teve em 2019, você falou que estava pronto para a porrada. Na última semana, o secretário de Cultura, Mário Frias, foi às redes sociais depois que você criticou o presidente Jair Bolsonaro e disse: “Achou que ia pegar comigo verba pública para esse lixo panfletário? Pede para sair, moleque!” Essa mesma Secretaria, que agora se pronuncia dessa maneira, censurou diversos espetáculos nos últimos anos, por serem contrários ao pensamento retrógrado do governo federal. É esse o tipo de movimento do governo federal a que você se refere?

É isso. O cara que é responsável pela Secretaria de Cultura no Brasil diz imbecilidades como essa: “Não vai pegar dinheiro comigo”. É muito ridículo, é muito triste. Eu fiquei pensando que esses ataques, esse tipo de postura, de declaração por parte do governo federal, elas dizem muito mais sobre o estado das coisas no Brasil do que sobre o filme propriamente dito.

Marighella


Eu fiz um filme sobre Marighella, você não é obrigado a gostar dele. É um filme sobre um homem pelo qual eu tenho uma admiração enorme, um personagem da história do Brasil que teve a sua história apagada, silenciada pela narrativa oficial e que continua causando medo. É engraçado como o fantasma de Marighella causa, ainda hoje, talvez mais medo e terror nessa galera, do que na época em que ele estava vivo.

Isso para mim é muito significativo do momento pelo qual o Brasil passa. Isso diz muito mais sobre quem são eles e que tipo de pessoas são essas, do que sobre o filme que eu fiz. Marighella era um homem do seu tempo e que continua inspirando, como eu disse, todos aqueles que acreditam na justiça social, um homem que sempre esteve ao lado dos mais pobres, dos mais fracos, dos oprimidos, dos tra balhadores, um lutador pelos direitos civis, um democrata. Apesar de tudo que dizem, Marighella foi um democrata, que entregou a sua vida na luta pela democracia no Brasil.

Acho que tem muito a ver com isso, de você fazer um filme para agora, a tua escolha de levar o filme para um assentamento do MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), na Bahia nesta semana e também para uma ocupação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) em São Paulo.

É isso, eu quero aproximar o filme das pessoas pelas quais Marighella lutou sempre. Eu quis fazer um filme popular, a ideia inicial do filme era devolver ao imaginário popular a figura desse homem que teve seu nome amaldiçoado, como diz Jorge Amado na lápide de Marighella: “Retiro da maldição e do silêncio, o seu nome de baiano”.

A gente sabe que nem todo mundo consegue ir à uma sala de cinema, sobretudo hoje em dia com a pandemia, com os preços, nesse Brasil com 19 milhões de pessoas passando fome, então o que eu puder fazer para aproximar o filme das pessoas pelas quais Marighella lutou, as pessoas veem na luta de Marighella a sua luta no Brasil de hoje, o que eu puder fazer, eu vou fazer.

E não é só o MST e o MTST, todos os movimentos sociais estão chegando em peso, apoiando o filme. O Levante da Juventude, a Coalizão Negra por Direitos está em todas as pré-estreias do filme. Essa exibição lá no assentamento do MST vai ser gigante, vai ser bonito, vai ser um ato simbólico, político de muita força. Eu não tenho dúvida de que o filme, nesse momento, tem um significado simbólico muito grande e isso me anima muito.

Marighella é um thriller de ação e para além do debate político que obviamente já tem travado e vai travar ainda mais depois de sua estreia, tem essa questão de ser um filme feito para o cinema mesmo, grandioso. Isso vem muito de uma influência dos teus trabalhos no cinema de maior repercussão que têm bastante ação, no caso o Tropa de Elite, a série Narcos. Isso influenciou bastante na tua direção?

Sim, eu sempre quis fazer um filme popular. Eu acho que o cinema de ação é um gênero que tem essa capacidade de comunicação com o público muito grande, mas eu não faria um filme de ação só por isso, não. A escolha pelo gênero ação tem a ver também com a natureza das ações que a ALN (Aliança Libertadora Nacional) fazia nos anos 1960 e 1970, é uma escolha orgânica, conectada com esse período específico da história do Brasil.

Eu entendi, e aí sim a minha relação com o [José] Padilha e com os trabalhos que eu fiz com ele, que um filme político pode ser popular, ele deve ser popular. Não há contradição entre você fazer um filme de ação e falar de um Brasil, de uma história que tem ligação profunda com o que está acontecendo agora, sem abrir mão da linguagem, do arrojo cinematográfico, da complexidade dos personagens.

O filme nasce da minha admiração por Marighella, mas Marighella é um personagem complexo e essa complexidade está lá no filme. Marighella é colocado em xeque o tempo inteiro no filme.

Os teus próximos trabalhos serão com o Karim Aïounz e o Kleber Mendonça, na minha opinião, talvez os dois principais diretores brasileiros hoje.

Na minha opinião também, são dois dos maiores diretores no mundo, eu acho.

E agora desse outro lado do balcão, como é que você vê o cinema nacional? Apesar das censuras, das dificuldades, da falta de financiamento, tanto o Karim quanto o Kléber foram premiados em festivais internacionais dos mais importantes. A gente vive um momento muito especial, soma-se a isso o teu filme também.

Um pouco antes do ataque frontal à cultura organizado pelo governo Bolsonaro, o cinema brasileiro estava em uma evidência muito forte fora do Brasil, levando a nossa cultura e a nossa produção para fora. O Kléber, com Bacurau, ganhou o prêmio do júri em Cannes e o Karim, no mesmo ano, ganhou o prêmio do Certain Regard, o filme da Petra Costa tinha sido indicado ao Oscar. Hoje, o nosso cinema, o dito cinema independente brasileiro, foi destruído, acabou. Eles destruíram a Ancine [Agência Nacional de Cinema] e acabaram com toda e qualquer possibilidade desses filmes existirem.

O audiovisual brasileiro hoje sobrevive graças à presença dos streamings no Brasil, mas é uma relação diferente, porque nem todo cineasta vai ter a liberdade de poder produzir, falar o que quer. O Kléber e o Karim são dois diretores que têm uma estatura grande para poder se colocar, mesmo em uma empresa de streaming, “eu vou fazer meu filme e vai ser assim”.

Mas a maioria dos diretores iniciantes não, vão ter que obedecer a uma necessidade de mercado dessas empresas. Antes nós fazíamos os filmes que queríamos, porque contávamos com Agência Nacional de Cinema, com as redes de incentivo à cultura.

Eu acho que disse isso naquela nossa entrevista, que esperar que o governo Bolsonaro entenda a importância da cultura para o desenvolvimento do país é pedir demais desse governo, formado por pessoas medíocres, ignorantes e sem nenhum entendimento do que significa a cultura para um país.


Agora, o que me espanta é que eles, que se dizem neoliberais e tudo mais, não entendam a importância de tudo o que o nosso setor gera em termos de emprego e renda. Quando você faz um ataque aos artistas, com as mentiras, com as falácias e tentando destruir a nossa atividade, você não atinge somente os artistas, você atinge todo um setor, o cara que dirige o caminhão, a pessoa que prepara a comida, é todo um setor que gera emprego, gera renda.

Proporcionalmente geramos mais emprego e mais renda, por exemplo, que o setor automobilístico, que recebe incentivos fiscais muito maiores do que o setor cultural. Então, isso é um terreno de terra arrasada mesmo, mas que será reconstruído, porque nós sempre estaremos aqui fazendo, com todas as dificuldades, a gente vai estar sempre fazendo arte, produzindo cultura.

Eu vou citar uma frase que você disse naquele papo, que eu achei muito interessante: “Triste do país que faz dos artistas inimigos do povo”. Mesmo que a gente consiga retomar a democracia em 2022, você acha que isso ainda vai ser uma realidade daqui em diante? Uma sociedade polarizada, que vai confrontar artistas, democratas, progressistas, com lixo retrógrado? A gente tem visto que, nos Estados Unidos, o trumpismo não deixou de existir.

É, o trumpismo não deixou de existir e talvez o bolsonarismo siga aí, mas eu acho que é muito claro hoje, para a maioria da população brasileira, os que votaram em Bolsonaro na onda antipetista, antiesquerda, está muito claro hoje no Brasil a tragédia que é esse governo. Não tenho dúvida que, nas urnas, no processo democrático, o Bolsonaro vai ser derrotado.

Seja Lula o próximo presidente, seja a chamada terceira via, quem quer que seja o próximo presidente do Brasil, obrigatoriamente se distanciará dessa herança, desse contexto trágico que a gente vive hoje. Foi assim com o governo [Joe] Biden, que hoje é um governo mais progressista do que o governo [Barack] Obama, porque o que veio antes era tão terrível e tão pesado e tão retrógrado, que eles tiveram que se distanciar.

O Brasil é muito mais que isso, o progressismo e a vocação que nós temos de ser um país diverso, belo e inclusivo, isso também está dentro de nós e acho que isso vai se refletir, sem nenhuma dúvida, de 2022 para frente.

E as forças progressistas também, e a democracia é isso. Elas empurram aquele governo para um lugar de progressismo, talvez até inesperado por eles próprios, como uma forma de distanciar-se desse momento trágico. Foi assim no pós Ditadura. A nossa Constituição de 1988 é uma constituição progressista, que norteou os governos do pós-ditadura, Fernando Henrique Cardoso, com todas as contradições e diferenças, o governo Lula, o governo Dilma.

Eu costumo dizer que o governo Bolsonaro ele é trágico, mas ele é, com toda a sua tragédia, pedagógico, porque ele mostra pra gente o Brasil que ficou camuflado desde a retomada da democracia, porque a gente quis olhar para frente no Brasil, esse país da Lei de Anistia, o país do camuflamento da sua história retrógrada, racista, golpista e autoritária.

Bolsonaro emerge, como eu disse, do esgoto dessa história como um lembrete de que o país também é formado por essas forças. Mas eu acho que agora nós já nos defrontamos com isso, vimos, olhamos para isso. Eu acho que o Brasil é muito mais que isso, o progressismo e a vocação que nós temos de ser um país diverso, belo e inclusivo, isso também está dentro de nós e acho que isso vai se refletir, sem nenhuma dúvida, de 2022 para frente.

Se não houver um arroubo golpista desses aí, que a gente sempre fica temeroso, com a população sendo armada loucamente pelo governo, esse cara dizendo que só sai do governo morto ou preso – espero que preso. Se não acontecer uma tragédia, uma coisa maluca dessa, um governo cheio de militar e tal, pela via democrática, não acredito que nós brasileiros vamos repetir o erro de 2018.

No 7 de Setembro pairou no ar essa tentativa de golpe de Estado. Lá atrás você disse que não entraria na luta armada se estivesse em 1964, como fez a ALN de Marighella. O Wagner Moura de hoje entraria na luta armada?

Não sei cara, é uma pergunta difícil mesmo, porque ela exige uma complexidade muito grande na resposta. A gente tem que pensar o seguinte: os anos 1960 e 1970 eram muito diferentes, apesar da casualidade das semelhanças entre o autoritarismo e o saudosismo que Bolsonaro tem daquela época e tudo mais, o mundo era muito diferente e a revolução, a luta armada, elas fazem parte de um contexto mundial.

Marighella, a ALN, o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) e todos os grupos armados da luta armada no Brasil, não era uma gente louca, voluntarista, que resolveu pegar em armas, elas estavam conectadas com o contexto mundial. A revolução e a ideia da revolução estavam presentes na cultura do mundo naquela época, refletida na cultura do mundo.

O Marighella era um cara que tinha relações com Jean Paul Sartre, [Jean Luc] Godard mandava dinheiro para Marighella. Ele assistia a Batalha de Argel do Pontecorvo o tempo todo, fora que em 1959 a revolução cubana triunfou, o Vietnã, a Argélia se libertou da França.

E Marighella foi à China e a Cuba também.

Foi, exatamente. Ele foi na Olas (Organização Latino-Americana de Solidariedade) lá em Cuba e aquilo tudo foi muito importante para o contexto do Brasil, para aqueles que pensavam em como combater a ditadura naquela época. Para muitos, naquela época, a luta armada era uma opção muito viável e conectada com o mundo.

Hoje em dia, não sei se isso faz muito sentido no mundo, no Brasil de hoje, espero que a gente não chegue a um ponto em que isso faça sentido. É assim, Marighella era um homem do seu tempo, quem é anacrônico é Bolsonaro, é o grupo que está no poder hoje, que exorta seus seguidores a irem às ruas pedir a volta da ditadura, o fim do Supremo [Tribunal Federal], armando os seus seguidores.


Eu acho que sim, tentando responder a sua pergunta, eu acho que eu me engajaria certamente nos anos 1960 e 1970 na resistência contra a ditadura militar. E o meu filme diz também uma coisa que eu acho que é importante, havia muita gente nos grupos de apoio à resistência contra a ditadura que não pegava em armas.

A própria cena com o jornalista, que se sacrifica para para poder divulgar o manifesto. A forma como Clara conversa com Marighella sobre a ideia da luta armada. A resistência à ditadura militar teve diversas vertentes diferentes. O que eu não acho justo é que hoje, sob a luz da história, a gente trate a luta armada de maneira superficial. Dizendo que a luta armada recrudesceu a ditadura.

A luta armada também era feita de pessoas que viviam um momento em que estavam cerceados completamente de qualquer canal de comunicação. E dentro de um contexto mundial, entendiam que a luta armada era uma opção viável.

Você também disse lá em 2019 que o racismo não era uma pauta da esquerda na ditadura e que também não era suficientemente debatida agora. Marighella era negro, você reafirma isso com a escolha pelo Seu Jorge para fazer o papel e tem carregado contigo a Coalizão Negra por Direitos que, como você falou, está em peso em todas as pré-estréias. O que você acha que mudou de lá para cá?

Quando eu disse que a luta contra o racismo naquela época não tinha a força que tem hoje por parte da esquerda, é verdade. O que não quer dizer que não houvesse uma luta. Marighella sempre foi um defensor…é um cara que nasceu na Baixa do Sapateiro, uma região pobre, habitada sobretudo por pessoas de cor negra em Salvador e essa luta, ele sempre carregou, a vida inteira. Marighella era filho de uma mulher que nasceu em 1888, justamente no ano em que o Brasil, o último país do mundo ocidental, aboliu a escravidão.

Essa mulher, filha de escravos sudaneses, dos malês, do yourubá, Imalê, que eram muçulmanos, que eram negros da região de onde vieram. Primeiro: eram alfabetizados, tinham noção de matemática e eram adestrados nas lutas de revolta nos seus países. Então, quando vieram para Salvador, essa população ficou sobretudo na Bahia, foi a galera que deu mais trabalho aos senhores de engenho aqui, sendo a Revolta dos Malês a mais poderosa e significativa de todas.

Desconectar a luta de Marighella dessa sua herança ancestral seria um erro histórico, brutal. Na época em que a gente falou disso, eu tinha escolhido [Mano] Brown, que tem uma cor de pele mais parecida com a de Marighella, que tem uma representação simbólica muito forte hoje em dia como um poeta também. Brown é marighellista mesmo antes de eu conhecê-lo.

Mas quando eu optei por Seu Jorge, na época e quando eu falei com vocês, talvez não tivesse suficientemente claro na minha cabeça, a importância que isso tem. Eu acertei sem saber, porque para mim, na época, eu só queria que fosse um cara preto, eu não me importava se a pele era mais escura ou menos escura, não podia ser mais clara.

E hoje em dia, eu acho que o fato de Seu Jorge ter a cor de pele mais escura do que a de Marighella e do que a de Mano Brown, o fato de ter empretecido Marighella foi um acerto muito grande, porque eu fiz o caminho inverso da história do audiovisual brasileiro, que embranquece os seus personagens.

Então, eu estou reafirmando a negritude de Marighella e dizendo, por exemplo, para a Coalizão Negra por Direitos e para os movimentos negros em geral, que esse foi um lutador importante para a justiça social e para a democracia, no direito dos mais pobres, das desigualdades civis e que esse homem era negro. Portanto, que um menino negro possa olhar para esse cara hoje e dizer: “Esse homem era negro, eu tenho orgulho dele”, isso para mim é muito importante, faz muito sentido.

Todas as conquistas que a gente chegou na nossa jovem democracia foram destruídas. Então eu acho que agora é um cenário de construção. A gente tem que voltar alguns passos e construir.


Para encerrar, você já havia comentado que, se as eleições fossem hoje, teu voto era em Lula. Como tem visto o cenário eleitoral de 2022. Você deve estar pelo Brasil, trabalhando…

Acho que a luta hoje é a retomada da democracia plena, quer dizer, democracia plena nós nunca tivemos, mas a retomada de uma base democrática que já tivemos antes e que dali em diante deveria progredir, ir adiante, nós fomos para trás. É um terreno de terra arrasada, o governo Bolsonaro não é um governo que construiu nada, é um governo de destruição.

Ele destruiu basicamente tudo o que havia de bom, todas as conquistas que a gente chegou na nossa jovem democracia foram destruídas.

Então eu acho que agora é um cenário de construção. A gente tem que voltar alguns passos e construir. Se a eleição fosse hoje, eu votaria em Lula. Embora lá atrás, quando na época dos governos do PT, eu pensasse que o Brasil precisava dar ainda um passo mais adiante do que o PT representava.

Mas eu acho que agora é hora de a gente reconstruir, eu acho que, nesse momento, a minha opção é pelas políticas de inclusão social e eu acho que Lula também é um cara que aprendeu e se afetou muito por tudo isso que a gente está falando. O próximo governo Lula, mesmo ele sendo esse político hábil e conciliatório e tudo, nós, é nossa responsabilidade também levar um possível governo Lula para um lado mais progressista, forçá-lo a caminhar mais para a esquerda do que talvez os seus outros governos.

FONTE: BRASIL DE FATO

‘Não é um número’: campanha homenageia vítimas da covid no Brasil

No Dia de Finados, nesta terça-feira (2), o Memorial Inumeráveis ocupa as redes sociais do Brasil com as histórias de vida de algumas das mais de 608 mil vítimas da covid-19. Os números no Brasil são, de fato, gravíssimos, porque o país tem menos de 3% da população do mundo, mas registra mais de 12 % das mortes pela doença. No entanto, o objetivo do memorial é não permitir que essas histórias de pessoas que perderam a vida para a pandemia – e para a omissão governamental – se limitem a números. Desse modo, o memorial convida os enlutados a compartilhar um texto curto sobre a sua pessoa querida. A iniciativa presta uma forma de “homenagem, protesto e cura” com a hashtag #nãoéumnúmero.

Às vésperas da celebração, a campanha já somava mais de 3 mil publicações apenas no Instagram. Uma delas, por exemplo, conta a história de Alberto Monteiro de Andrade. Natural de Breves, no Pará, ele comprava latinhas mesmo sem precisar, somente para ajudar crianças mais carentes do bairro onde morava em Brasília. Aos 80 anos, Andrade foi vítima do novo coronavírus no ano passado. Apenas após ter sido levado pela covid a família descobriu que a compra das latinhas, motivo de algumas broncas que levava, ajudava as crianças da região. Depois de sua morte, elas contaram que também perderam a principal fonte de renda.

“Dono de uma generosidade que não deixava dúvidas, apesar de seu pouco estudo e muitas limitações; carregava muito conhecimento e uma visão da vida tal, que nem os filhos imaginavam que ele pudesse enxergar tão longe”, descreve a filha Adriane do Socorro Machado de Andrade.

O Memorial dos Inumeráveis

De acordo com o memorial, este Dia de Finados é o maior em número de pessoas enlutadas no país, porque uma a cada 36 pessoas no Brasil perdeu uma pessoa próxima para a covid-19. Mas, rompendo com a frieza dessas estatísticas, as histórias compartilhadas nas redes sociais dão dimensão aos pais, mães, irmãos, tios, primos, filhos, avós e amigos que não sobreviveram.

O Memorial dos Inumeráveis está em curso desde abril de 2020 e conta com diversos parceiros. O projeto tem se desdobrado em muitas formas e já chegou a fazer parte da Virada Sustentável, em setembro do ano passado. Na ocasião, a ocupação projetou os relatos sobre indígenas vitimados pela pandemia, tirando-os da invisibilidade a que estavam relegados.

FONTE: RBA

Aprovada Taxa de Serviço no Hotel Pousada Bertoluci

O mês de outubro, além do foco na campanha salarial da categoria, seguiu mobilizando o Sintrahg em torno dos Acordos Coletivos, ACTs, para taxa de serviço. No dia 28 foi a vez da assembleia sobre o tema no Hotel Pousada Bertoluci.

Ficou definido que a empresa iniciará a cobrança e distribuição da taxa de serviço à partir deste 01 de novembro. O regramento sobre a distribuição entre os trabalhadores também foi aprovado na assembleia.

Acordo foi muito positivo para trabalhadores

DEMOCRACIA

O acordo, ao ser aprovado, incorporou algumas alterações propostas pelos empregados, o que é muito positivo segundo o Presidente do Sintrahg, Rodrigo Callais.

Callais e o diretor Silvano “Narizinho” aproveitaram a oportunidade da assembleia para mostrar a importância do acordo e sobre como vai aumentar a remuneração dos empregados já que, antes, tinham apenas um salário fixo em função de a empresa não estar cumprindo o requisito da cobrança dos 10%.

“À partir de novembro, além do reajuste de salário da categoria que está em negociação com a patronal, terão mais este complemento na sua remuneração, relativo a distribuição dos valores arrecadados de taxa de serviço”, comemorou Callais.

Também foi feita atualização com as informações sobre o andamento da campanha salarial e as vantagens de ser sócio do sindicato.

Novembro Azul: tire as principais dúvidas sobre câncer de próstata

O Sintrahg também está engajado no Novembro Azul, é o mês de conscientização do câncer de próstata, que atinge cerca 65 mil brasileiros por ano e é responsável por 13,6 mortes para cada 100 mil homens, de acordo com dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer).

Embora as taxas de incidência e mortalidade sejam altas, de acordo com especialistas, os números não são o que mais aflige os brasileiros, mas sim o medo de ficar impotente sexualmente, o que não acontece em todos os casos.

Além do receio de perder a ereção, há dúvidas sobre as reais causas para o desenvolvimento do câncer de próstata, sobre como fazer o diagnóstico e os tipos de tratamento. Abaixo, esclarecemos os principais questionamentos sobre a doença.

Tire dúvidas sobre câncer de próstata
O câncer de próstata é mais comum em idosos. Estima-se que seis entre dez casos registrados no mundo ocorrem em homens com 65 anos ou mais. No entanto, homens de todas as idades devem ficar atentos aos fatores de risco pessoais e conversar com seus médicos para a realização de exames que permitam a detecção precoce da doença.

Ir ao urologista regularmente é o caminho para a detecção precoce. A recomendação médica é que se façam exames de PSA e toque retal a partir dos 50 anos. Para pessoas com parentes próximos que tiveram a doença mais jovens, os exames podem começar um pouco antes.

O câncer de próstata geralmente surge como uma doença silenciosa e indolor. Além disso, muitas vezes os sintomas podem ser confundidos ou atribuídos a outras doenças. Os sinais são frequentemente detectados pela primeira vez durante exames de rotina.

Os sintomas mais comuns incluem necessidade frequente de urinar, dificuldade em iniciar ou interromper a micção, fluxo fraco ou interrompido de urina, dor ou ardor, dificuldade para ter uma ereção, ejaculação dolorosa, sangue na urina ou no sêmen, dor frequente e rigidez na parte inferior das costas, quadris ou coxas. Se tiver qualquer um destes sintomas, procure seu médico para diagnóstico e tratamento, se for necessário.

O aumento da próstata e o câncer de próstata são coisas diferentes. Os sinais e sintomas do aumento do tamanho da glândula incluem dificuldade de esvaziar completamente a bexiga, necessidade frequente de urinar durante a noite e incontinência urinária. O aumento da próstata acontece com a maioria dos homens à medida que envelhecem e esta condição não aumenta o risco de câncer de próstata.

Os hormônios masculinos estimulam o crescimento dos tumores, por isso existe esse temor. No entanto, especialistas apontam que, até o momento, não há evidência suficiente para dizer que a reposição de testosterona aumente o risco de câncer de próstata.

O câncer de próstata, assim como qualquer outro tipo de câncer, se desenvolve a partir da proliferação desordenada de nossas células, causada por mutações no código genético. Não é, portanto, transmitido de uma pessoa para outra, pois não é infeccioso ou contagioso.

Os exames de PSA medem os níveis do antígeno prostático específico na próstata, não o câncer. O PSA é produzido pela próstata em resposta a uma série de alterações que podem estar presentes, incluindo uma infecção ou inflamação (prostatite), o aumento de tamanho da próstata (hiperplasia benigna da próstata) ou, possivelmente, o câncer.

O PSA é o primeiro passo no processo de diagnóstico para o câncer. Ele é útil para a detecção da doença em estágios iniciais, quando é possível ser tratada. Especialistas acreditam que o exame de PSA salva a vida de aproximadamente 1 em cada 39 homens que realizam o exame.

Mas ele não dispensa o exame de toque retal. O exame de PSA é mais eficaz quando é feito concomitante ao toque retal e quando se leva em consideração também a avaliação dos fatores de risco do paciente.

O melhor tratamento para cada caso depende do estadiamento da doença (estágio em que ela se encontra), da idade e do estado geral de saúde do paciente. De maneira geral, cirurgia, radioterapia e terapia hormonal costumam ser as opções mais comuns.

Nem todos os tipos de câncer de próstata requerem tratamento imediato. O tratamento do câncer de próstata depende da idade, do estadiamento do tumor, da quantidade de células cancerígenas presentes no tecido da biópsia, dos sinais e sintomas apresentados e do estado de saúde geral do paciente. Homens diagnosticados com câncer de próstata devem conversar com seu médico sobre a necessidade de tratamento.

Alguns necessitam de tratamento ativo, que pode incluir cirurgia ou radioterapia, e outros podem fazer o que se denomina vigilância ativa. A vigilância ativa é quando o médico monitora o paciente e a evolução da doença ao longo do tempo, intervindo quando necessário. Antes de iniciar qualquer tratamento, converse com o seu médico sobre os riscos e benefícios para que você possa tomar uma decisão de qualidade sobre o que é melhor para o seu caso.

Existem diferentes tipos de câncer de próstata, alguns de crescimento muito lento e outros mais agressivos. Uma vez confirmado o diagnóstico de câncer na próstata pelo patologista, o médico tem condições de caracterizar o potencial de agressividade do tumor e indicar o melhor tratamento com base em vários fatores, incluindo a idade do paciente e seu estado de saúde geral. Os pacientes precisam entender a complexidade da doença e tomar decisões em relação a seu tratamento em conjunto com seu médico.

Em alguns tratamentos para o câncer de próstata, como a cirurgia, os nervos que rodeiam a próstata e controlam a ereção peniana podem ser lesionados. No entanto, a extensão dessa lesão depende de uma série de fatores, como localização e tamanho do tumor e do tipo de tratamento realizado.

Em números, cerca de metade dos homens com bom desempenho sexual antes do tratamento do câncer de próstata ainda terá uma boa função após o tratamento da doença. Outros homens apresentarão impotência moderada a severa, mas a maioria tem apenas uma pequena perda da função sexual, que muitas vezes volta ao normal dentro de alguns meses a um ano após o tratamento. No entanto, a idade pode ser um fator complicador e, à medida que os homens envelhecem, já têm algum comprometimento da função sexual.

Nem todos os pacientes ficam com essa sequela. Um em cada cinco homens tratados de câncer de próstata apresentam incontinência urinária como consequência do tratamento, e os pacientes mais jovens geralmente evoluem melhor. São adotadas técnicas como a reabilitação com fisioterapia do assoalho pélvico com utilização de eletroestimulação.

Praticar atividade física regularmente, manter um peso saudável, diminuir ou evitar o álcool e não fumar são recomendações importantes para minimizar o risco da doença. Uma alimentação pobre em gorduras de origem animal e rica em frutas, verduras, grãos e cereais integrais pode diminuir o risco de câncer, bem como o de outras doenças crônicas.

Além disso, estudos já apontaram os benefícios do licopeno, presente, por exemplo, no molho de tomate, na prevenção desse e outros tipos de câncer.

Fonte: Viva Bem

ALERTA: Brasil tem 13,7 milhões de desempregados e 73,2 milhões com trabalho precário

Com aumento da informalidade, trabalho por conta própria e sem carteira assinada, portanto, sem os direitos previstos em lei, a taxa de desemprego recuou para 13,2% no trimestre encerrado em agosto, atingindo 13,7 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada nesta quarta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A precariedade dos empregos gerados contribuiu para a queda do rendimento real dos trabalhadores (R$ 2.489) em -4,3% em relação ao trimestre anterior e -10,2% se comparado a igual período de 2020. Já a massa de rendimentos (R$ 219,164 bilhões) – soma de todos os rendimentos das pessoas ocupadas pesquisadas – ficou estável.

A taxa de informalidade passou de 40% no trimestre encerrado em maio para 41,1%, no trimestre encerrado em agosto, totalizando 37 milhões de trabalhadores e trabalhadoras.

O IBGE considera informais os trabalhadores sem carteira assinada (empregados do setor privado ou trabalhadores domésticos), sem CNPJ (empregadores ou empregados por conta própria) ou trabalhadores familiares auxiliares.
O trabalho por conta própria bateu novo recorde e soma 25,4 milhões de pessoas – aumento 4,3% (mais 1 milhão de pessoas) em 3 meses. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, o contingente avançou 3,9 milhões, alta de 18,1%.
O número de trabalhadores sem carteira assinada, portanto, sem direitos, aumentou 10,1% na comparação com o trimestre móvel anterior e 23,3% na comparação anual, somando 10,8 milhões de pessoas.

Já a taxa de trabalhadores com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos) subiu 4,2%, totalizando milhões de pessoas, frente ao trimestre anterior e 6,8% (2,0 milhões) ante o mesmo trimestre de 2020.

O desalento – pessoas que desistiram de procurar trabalho depois de muito tentar e não encontrar – atingiu 5,3 milhões de trabalhadores – redução de 6,4% em relação ao trimestre encerrado em maio e de 8,7% em 1 ano.
A taxa composta de subutilização (27,4%) caiu 1,9 p.p. no trimestre e recuou 3,2 p.p na comparação anual e atinge 31,1 milhões de pessoas.
Já a população subocupada por insuficiência de horas trabalhadas cresceu 4,7%, atingindo 7,7 milhões de pessoas – mais 343 mil pessoas – no trimestre e subiu 29,2% no ano.

Ocupados são 90,2 milhões

Com isso, o número de trabalhadores ocupados foi estimado em 90,2 milhões, o que representa um aumento de 4% em relação ao trimestre móvel anterior. Ou seja, mais 3,4 milhões de pessoas ocupadas.

Segundo o IBGE, o nível de ocupação subiu 2 pontos percentuais para 50,9%, o que indica que mais da metade da população em idade para trabalhar está ocupada no país.

Em um ano, o contingente de ocupados avançou em 8,5 milhões de pessoas, sendo que desse contingente 6 milhões eram trabalhadores informais.

FONTE: Portal CUT / Mais informações no site do IBGE.

Bom para acionistas, péssimo para o povo: com novo reajuste, gasolina acumula alta de 73,4% em 2021

A Petrobras anunciou nesta segunda-feira (25) novos reajustes nos preços dos combustíveis, que começam a valer a partir de amanhã. O preço médio da gasolina nas distribuidoras passa de R$ 2,98 para R$ 3,19, alta de 7,04%. Já o diesel sobe de R$ 3,06 para R$ 3,34 por litro, aumento de 9,15%. Em 2021, gasolina e diesel acumulam altas de 73,4% e 65,3%, respectivamente.

Esses aumentos são consequência da política de Preço de Paridade Internacional (PPI), adotada pela Petrobras desde 2016. Desde então, os preços dos combustíveis são reajustados de acordo com a variação do petróleo no mercado internacional, cotado em dólar.

O PPI atende aos interesses dos investidores da Petrobras, que reagiram positivamente aos novos reajustes. Após o anúncio, as ações da estatal subiram mais de 4% ao longo da manhã.

Contudo, para o restante da sociedade e os demais setores da economia, a alta dos combustíveis tem drásticas consequências. Gasolina, diesel e gás de cozinha figuram como vilões de uma taxa inflacionária que rompeu os 10% no mês passado, a maior alta desde 1994, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IGBE. Além disso, como a grande maioria dos produtos é transportada por caminhões, o aumento dos custos dos combustíveis tem impacto disseminado por toda a cadeia.

Inflamável
Diretamente afetados, motoristas de aplicativo têm abandonado o ofício, por conta da escalada dos preços dos combustíveis. E caminhoneiros ameaçam realizar uma greve a partir de 1º de novembro, se não houver mudança na política de preços da Petrobras.

O presidente Jair Bolsonaro chegou a anunciar, na semana passada, que os caminhoneiros receberiam auxílio de R$ 400 para minimizar a alta do diesel. Os motoristas, contudo, classificaram a proposta como “piada”. Por outro lado, Bolsonaro sinalizou, mais uma vez, ontem (24), que não vai intervir nos valores cobrados pela Petrobras.

A base do governo no Congresso aposta na aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLC) 11/2020, que estabelece alíquota fixa para o ICMS cobrado pelos estados sobre o preço dos combustíveis. A proposta, no entanto, encontra resistência dos governadores, que denunciam perda de receitas com o projeto. A medida, aprovada pela Câmara recentemente, não deve ter caminho fácil no Senado. Além disso, deve ter impacto reduzido, já que os percentuais do ICMS não foram alterados nos últimos tempos. Portanto, não é possível atribuir a isso a atual escalada de preços.

FONTE: RBA

Integração Brasil / Uruguai  / Argentina une sindicatos de trabalhadores da área do Turismo 

Ocorreu nesta segunda-feira, 25, o primeiro encontro do Ciclo de Conversas Turismo, trabalho e movimento sindical, promovido pelo grupo “Patrimônio, Turismo e Memória” da Área de Estudos Turísticos (CURE / Udelar) e a filial Maldonado do Sindicato Único Gastronomico y Hotelero del Uruguay (SUGHU), para  o qual o Sintrahg foi convidado como representante do Brasil.

Participaram Óscar Andino, secretário-geral do SUGHU-Maldonado, Rodrigo Callais, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Hotelaria e Gastronomia de Gramado (SINTRAHG) e Nancy Tudoroff secretária da Unión de Trabajadores del Turismo, Hoteleros y Gastronómicos de la República Argentina (UTHGRA), filial Mar del Plata.

O encontro serviu para discutir temas e trocar informações sobre a situação e as perspectivas do trabalho turístico nos três países.

Segundo Rodrigo Callais, o encontro serviu para troca de experiências entre as entidades dos três países, principalmente como cada país enfrentou a pandemia e seus efeitos para os trabalhadores. “Fica claro que nossos desafios a curto, médio e longo prazos são muito semelhantes, mas quando o assunto é a pandemia e seus efeitos, é evidente que a pior situação é a do Brasil, o negacionismo impactou muito mais a vida dos nossos trabalhadores do que a forma como os governos dos nossos vizinhos trataram a crise sanitária”. 

Ainda, segundo Callais, este foi o primeiro encontro. Logo devem haver outros. “Isto é muito importante porque os desafios dos trabalhadores e das trabalhadoras vão muito além das fronteiras, essa integração contribui para melhor entendermos o capitalismo globalizado e seus desdobramentos sobre os povos”, completou.

Presidente do Sintrahg dá entrevistas sobre campanha salarial

A manhã desta sexta-feira, 22 de outubro, teve uma agenda cheia de entrevistas para a direção do Sintrahg a respeito da campanha salarial da categoria da hotelaria e gastronomia de Gramado. Foram duas entrevistas: na rádio Massa e na Verdes Campos.

O presidente do Sintrahg, Rodrigo Callais, esteve acompanhado do diretor Silvano “Narizinho”. Nas suas falas, aproveitaram para atualizar a categoria sobre como andam as negociações junto aos patrões, já que ocorreram duas reuniões até o momento: no dia 04 e no dia 19.

O consenso no Sintrahg é de que os patrões frustaram a categoria nesse início de negociações, pois sua postura foi de negar sequer a reposição da inflação nos salários e ainda ameaçaram com retirada de direitos.

Tal sinalização dos patrões, segundo avaliação do Sintrahg, ficou distante do que a categoria espera, com sua campanha que neste ano cujo slogan é “queremos VALORIZAÇÃO PADRÃO GRAMADO”.

“Infelizmente, a patronal não tem levado em consideração as perdas dos trabalhadores durante a pandemia, oriundas das reduções de salário ou suspensão de contrato; nem tem tido a sensibilidade diante da carestia de preços, principalmente dos alimentos”, relatou Callais.

Isso contradiz, segundo ele, com a positiva e surpreendente retomada do setor desde junho. “A própria posição patronal de que a expectativa é muito boa para os próximos meses deveria justificar uma postura mais sintonizada com os anseios da categoria. Esta que tem se sacrificado ao longo desta pandemia, com a exposição ao vírus em momentos em que a doença não estava controlada e nem havia ainda a vacinação, em momentos nos quais a cidade já estava lotada de turistas; nada disso tem sido levado em consideração na hora do reajuste do salário”.

Reajuste com aumento real

Callais reafirmou a disposição de diálogo do Sintrahg para que se chegue o mais breve possível a um acordo com os patrões, mas que a prioridade é a reposição da inflação nos salários e a valorização do piso da categoria, além da manutenção dos direitos.

“Nós, do Sindicato, seguimos apostando no diálogo para que tenhamos um bom acordo, com um reajuste justo e a preservação dos direitos de quem trabalha na hotelaria e gastronomia de Gramado”, disse. “Acompanhe pelas nossas redes sociais, participe e apoie a luta do Sindicato pela valorização da nossa categoria!”, concluiu.

A próxima reunião com o setor patronal será no dia 28.

STF defende acesso gratuito à Justiça do Trabalho e derruba dois artigos da ‘reforma’ de 2017

A maioria do Supremo Tribunal Federal (STF) considerou inconstitucionais dois artigos da “reforma” trabalhista (Lei 13.467, de 2017) que restringiam o acesso gratuito à Justiça do Trabalho. Com diferenças entre os ministros, foram seis votos contra os artigos 790-B e 791-A da lei (sobre pagamento de honorários). Desse modo, foi formada maioria contra o relator, Luís Roberto Barroso. A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5.766, aberta em 2017 pela Procuradoria-Geral da República (PGR), foi a primeira a questionar pontos daquela “reforma” na CLT. A rigor, nenhum dos ministros considerou os artigos constitucionais, mas eles divergiram no entendimento sobre sua aplicação.

A ação se referia a três artigos da lei de 2017. O terceiro item questionado, o 844, foi considerado constitucional, por maioria. Três juízes (Edson Fachin, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber) se posicionaram também contra esse artigo, considerando totalmente procedente a ação do Ministério Público. Já os ministros Alexandre de Moraes, Cármen L´úcia e Dias Toffoli foram pela procedência parcial, discordando das adaptações do relator para manter os outros dois artigos.

Pagamento de honorários
Agora derrubado pelo STF, o artigo 790 determinava que honorários periciais de processo na Justiça do Trabalho deveriam ser custeados pela parte sucumbente (perdedora), mesmo sendo beneficiária da Justiça gratuita. E o 791 trata dos chamados honorários de sucumbência aos advogados. Por fim, o artigo 844 fala de pagamento de custas em caso de ausência da parte na audiência.

O relator também considerou a ação parcialmente procedente, mas manteve os artigos, com ressalvas. Na sessão desta quarta-feira (20) – que finalizou o julgamento após quatro anos, a partir da retomada na última semana –, ele respondeu a questionamentos de colegas da Corte. E afirmou que seu voto tinha a preocupação de saber quem “pagaria a conta”. Deixando claro que, de algum modo, seriam os mais pobres.

Quem paga é o pobre
“Eu tenho um critério quando julgo, pra quase tudo. que é saber quem paga a conta. É um elemento decisivo para um julgamento que tenha repercussão econômica. (…) O Brasil, infelizmente, ainda é um país de muita pobreza. (…) Algum pobre vai pagar essa conta. Me parece mais razoável que fosse o pobre que tomou a iniciativa do litígio”, afirmou Barroso.

Segundo ele, pelo seu voto, o hipossuficiente (aquele que não tem condições de arcar com os custos da ação) só precisaria pagar honorários se obtivesse recursos suficientes em outra ação. Mesmo assim, apenas com parte daqueles recursos. “Não existe gratuidade na vida. Portanto, nós estamos definindo quem paga.” Ele foi acompanhado na íntegra por Luiz Fux, Nunes Marques e pelo decano Gilmar Mendes.

Constituição garante
Em outra corrente de divergência, Moraes disse considerar que as mudanças trazidas pelos artigos 790 e 791 não foram razoáveis na garantia do direito constitucional à Justiça gratuita. Entender que vencer um processo já tornaria a parte autossuficiente “seria uma presunção absoluta da lei que, a meu ver, fere razoabilidade”. Para o ministro, os artigos traziam obstáculos à efetiva aplicação do artigo 5º, inciso 74 da Constituição. Esse item determina que “o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.

Já Dias Toffoli concordou que a lei buscou adequações à realidade, mas observou que também existe o propósito de garantir um Poder Judiciário que assegure acesso “às pessoas mais pobres, mais vulneráveis, em maior dificuldade”. Ele observou que a Justiça do Trabalho “infelizmente é necessária”, dada a realidade brasileira. “Nós não vivemos num mundo em que a Justiça do Trabalho seja prescindível”, afirmou, concordando que os artigos impediam o pleno acesso assegurado pela Constituição.

Antes da conclusão do julgamento, o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Luiz Colussi, havia dito que a “modulação” proposta por Barroso contrariava o princípio constitucional e esvaziava o conceito de gratuidade. “A realidade social e econômica dos trabalhadores não justifica a criação de restrição de acesso à jurisdição. A legislação instituída na vigência da Constituição de 1988 é claramente no sentido da universalização do acesso ao Poder Judiciário, especialmente para os menos favorecidos.”

FONTE: RBA

ALERTA: Proteger a população e combater a fome é o que há de mais urgente

As centrais sindicais defendem a imediata expansão da proteção de renda para a população carente e vulnerável, para todos que vivem na pobreza, sem emprego e sem nenhum tipo de proteção, através da ampliação do Programa Bolsa Família.

O desgoverno Bolsonaro abandonou a nação à própria sorte. Foge das suas responsabilidades de enfrentar a crise sanitária, atrasa o provimento de vacina, reduz o valor do Auxílio Emergencial e não apresenta política econômica de desenvolvimento, acentuando o desemprego ou gerando emprego precário sem proteção laboral, social, previdenciária e sindical.

O resultado se expressa em cenas dantescas como aquela fotografia capturada no instante em que brasileiros procuravam comida em um caminhão de lixo em Fortaleza ou aquela em que moradores do Rio de Janeiro aglomeraram-se para pegar restos de carne rejeitados por supermercados.

São apenas dois exemplos da triste imagem do Brasil com sua política ultraliberal que despreza o povo, configurada na postura intransigente do mercado em defesa do nefasto Teto de Gastos.

Em números essas imagens expressam o alarmante índice de 55% da população sofrendo insegurança alimentar. São quase 90 milhões de pessoas que passam fome. Também são quase 32 milhões de trabalhadores que estão desempregados, desalentados, trabalham jornada parcial de forma precária ou estão na inatividade precisando de um emprego.

A base desta tragédia é a combinação entre desemprego recorde, volta da inflação e carestia.

Diante disso, propomos que o Congresso Nacional trate com urgência máxima a ampliação da cobertura da proteção de renda através do Programa Bolsa Família que integra ações de proteção de renda, educação, saúde e assistência, articulado com os Municípios e Estados.

Que a renda de proteção seja de R$ 600, com as mesmas regras aplicadas pelo Auxílio Emergencial para os casos especiais (p.ex. mães chefe de família R$ 1.200).

Que sejam reativadas e criadas políticas de geração de emprego e renda, integradas ao Programa Bolsa Família.

Que a tributação sobre as fortunas, altas rendas e lucros e dividendos seja implementada imediatamente para financiar a proteção social e o investimento público para gerar empregos.

É urgente a imediata revisão da Lei de Teto de Gasto, permitindo que o Estado cumpra suas funções primordiais de indutor do crescimento econômico e promotor da justiça social, com fonte de financiamento estável.

São Paulo, 20 de outubro de 2021

Sérgio Nobre, Presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores)
Miguel Torres, Presidente da Força Sindical
Ricardo Patah, Presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)
Adilson Araújo, Presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
José Reginaldo Inácio, Presidente da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores)
Antonio Neto, Presidente da CSB, (Central dos Sindicatos Brasileiros)
Atnágoras Lopes, Secretário Executivo Nacional da CSP-Conlutas
Edson Carneiro Índio, Secretário-geral da Intersindical (Central da Classe Trabalhadora)
José Gozze, Presidente da PÚBLICA, Central do Servidor
Emanuel Melato, Intersindical instrumento de Luta