Para ampla maioria da população brasileira, as políticas econômicas do governo de Jair Bolsonaro, ao lado do ministro Paulo Guedes, favoreceram (muito ou um pouco) grandes empresários (69%) e banqueiros (68%). Por outro lado, mais da metade (51%) também afirmou que a atual gestão é prejudicial aos trabalhadores. Os números fazem parte de uma prévia da pesquisa “Conjuntura Política e corrupção financeira”, realizada pelo Instituto Conhecimento Liberta (ICL), fundado pelo economista Eduardo Moreira, e divulgada nesta segunda (13).
Coordenado pelo sociólogo Jessé Souza, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a pesquisa ouviu 2.685 pessoas, entre 10 e 26 de novembro. Sobre as condições econômicas, 86% disseram que o país vive uma crise. Destes, quando perguntados sobre quem ganha com a crise econômica dos últimos anos, “políticos e “pessoas mais ricas” lideram a lista, ambos com (63%).
Na sequência, aparecem “pessoas que mantêm dinheiro fora do país” (52%), “bancos” (44%), “grandes empresas” (39%) e “empresários” (36%). Na contramão, por quase unanimidade, nove em cada 10 entrevistados (90%) disseram que a população mais pobre perdeu com a crise.
“Sabe que a população brasileira inteira está sofrendo os efeitos da desigualdade, da pobreza e da fome. Mas a maior parte dessa população tem cor: é o povo preto e periférico”, disse Moreira, que comentou os resultados iniciais da pesquisa em uma live do ICL.
“Esse governo foi eleito para atender aos interesses do grande capital nacional e internacional. Absolutamente tudo o que fizeram desde o primeiro dia de mandato foi exatamente atender a esses interesses da burguesia rural, das poucas famílias que controlam o sistema financeiro, e das petroleiras norte-americanas”, criticou o jurista e doutor pela Universidade de Harvard Adilson José Moreira, que também participou da discussão.
Destaques negativos
A redução da pobreza/das desigualdade (44%) também aparece no topo da lista dos destaques negativos de Bolsonaro e Guedes . O combate à pandemia (44%) também divide o topo entre as áreas que a atual gestão tem o seu pior desempenho, de acordo com os entrevistados. Logo abaixo vem saúde pública em geral (43%), seguido pela melhoria das condições de vida em geral (40%).
Também foram citadas negativamente, dentre outras, a áreas preservação do meio ambiente (39%), gestão econômica (38%) e imagem do Brasil no exterior (37%). Para 43%, não há aspectos positivos e dignos de elogio. Por outro lado, 28% citam o combate à corrupção como ponto alto da atual gestão.
Paulo Guedes
Além da política econômica do governo Bolsonaro, a pesquisa também traz perguntas específicas sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes. Nesse sentido, 61% disseram que “conhecem um pouco/já ouvir falar do ministro. Outros 27% dizem que “conhecem bem” o “Posto Ipiranga”, como Bolsonaro se refere ao seu principal assessor econômico.
Entre esses dois grupos, Guedes é avaliado como “ruim” (18%) ou péssimo (23%) por cerca de quatro em cada 10 brasileiros (41%). Outros 23%, no entanto, dizem que a atuação do ministro é ótima (8%) ou boa (15%).
Além disso, seis em cada 10 entrevistados afirmaram que Guedes atua em favor dos bancos. Além disso, 57% afirmam que o ministro da Economia é controlado pelos bancos privados, contra 24% que dizem que ele tem o controle sobre essas instituições. Ademais, ele também é visto como incompetente (52%) e corrupto (50%) por pelo menos metade da população. Consideram-no competente (31%) e honesto (30%) menos de um terço do total.
Pandora Papers e desvio de dinheiro
Mais da metade dos entrevistados também disse que bem (13%) ou um pouco/já ouviu falar (41%) do escândalo de evasão de divisas conhecido como Pandora Papers. Os demais receberam um texto informativo sobre o caso. Uma investigação conjunta de 151 veículos de comunicação, em mais de uma centena de países, revelou, em outubro, que líderes mundiais, empresários e celebridades mantêm contas em paraísos fiscais. Guedes é um dos brasileiros que aparecem na lista como detentores de contas offshore no exterior.
Após serem devidamente informados, 80% dos entrevistados concordaram que “o envio de dinheiro dos mais ricos para paraísos fiscais prejudica o Brasil porque faz com que menos impostos sejam arrecadados aqui”. Nesse sentido, cerca de três em cada quatro também consideraram “eticamente inaceitável” que um gestor mantenha recursos em paraísos fiscais, mesmo que a prática não seja considerada ilegal.
FONTE: RBA